terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eu, meu amigo Haroldo e o preá

Minha infância, até por volta dos 10 anos, dá um livro com algumas centenas de páginas. Foi uma fase intensa, bem vivida, extraordinária. Tenho em minha memória milhares de situações por que passei, experiências e histórias que sempre emergem das minhas lembranças e que por vezes conto aos mais chegados. Entre muitos causos que vivi, uma parte deles foi ao lado de um grande amigo, que até hoje mora lá perto de casa. Haroldo era uma figura singular, específica, que exige antes uma explicação. Desde pequeno, Haroldo tinha um perfil diferente. Ele era meio uma mistura de ecologista, caçador, colecionador de bicho estranho, aventureiro, índio (apesar de ser galego sarará). Na casa dele não era incomum encontrar cobras, lagartos, escorpiões, calangos, aranhas, peixes esquisitos – bichos que ele criava com um enorme carinho. Lembro bem de um peixe que Haroldo me deu e que eu morria de medo. Era um peixe gordinho, cumprido e que tinha uns bigodes esquisitos. Eu o guardei dentro de uma bacia plástica branca que minha mãe tinha, retangular. O bicho, que era de água salgada, ficava nadando super rápido dentro do recipiente, nervoso, agitado, e eu morria de medo que ele me mordesse. Morreu de fome porque eu não dava comida. O dia do preá foi inesquecível, um capítulo à parte. A gente tava na primeira para a segunda série do primário, hoje ensino fundamental I. O preá é um bichinho bem fofo, chamado por alguns de porquinho do mato, porquinho da Índia. É um roedor domesticável, que dá pra criar em casa se maiores trabalhos. Haroldo tinha um, até aquele famigerado dia. A gente tinha chegado a casa dele depois de uma de nossas expedições aventureiras. Estávamos com a maior fome. Normalmente, nessas circunstâncias, era comum que nós pegássemos “emprestado” umas frutas nos quintais dos vizinhos do bairro, tipo jambo, coco, manga etc. Mas nessa ocasião tivemos uma ideia diferente: almoçar o preá. Antes disso, porém, era preciso matar o bichinho. E essa foi a primeira e difícil decisão. A fome era grande, mas Haroldo gostava dele. O segundo passo, resolvida a questão inicial, seria o de saber como iríamos sacrificá-lo. Escolhemos o pior jeito, mas deu certo no final. Segurei o bicho pelo corpo, deixando só a cabeça do lado de fora. Haroldo pegou um porrete e se preparou para desferir o golpe. Veio a porrada. O bichinho ficou se tremendo todo na minha mão – gosto nem de lembrar-me da cena. Joguei-o no chão. Haroldo se encarregou de fazer o resto. Não lembro como foi porque fechei os olhos. Depois da execução, foi só “tratar” o preá, tirar vísceras, pele, cabeça e partes não comestíveis. Em seguida, foi a vez de temperar o bicho. Lembro que a gente pegou cominho (tempero seco) e colorau e saiu esfregando nas carnes do preá, meio que fazendo uma crosta vermelha e marrom. Umas pitadinhas de sal foram suficientes para terminar o processo de “dar gosto” ao nosso prato. Por fim, assamo-lo na manteiga usando uma frigideira bem pequenininha da mãe de Haroldo. O fogo tava no máximo e em poucos minutos o cheiro subiu. A casa de Haroldo ficou toda incensada de preá na manteiga, foi um fumacê medonho. Prato pronto, chegara a hora de comer. Sem arrodeios, Haroldo deu a primeira dentada, me passou o resto do bicho com a mão mesmo. Dei umas mordidas pra ver se o preá tava bom. Lembro que a gente balançou a cabeça um pro outro, como que aprovando o resultado do preparo. Até hoje lembro o gosto daquele negócio, além do cheiro, é claro. Não conto aqui pra não constranger. A gente comeu tudo. Jogamos só as carcaças fora. Na hora não tive coragem de falar, mas tava ruim pra cacete. Não pelo preá em si, que tem uma carne até saborosa. Mas provavelmente, se eu tivesse que preparar outro nos dias de hoje, temperaria só com sal e uma pitadinha de pimenta do reino. Cominho e colorau nada têm a ver com carne de preá.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Por que meu voto é Dilma

Estamos vivenciando um momento único em nosso país, embora muitos de nós não tenhamos a real dimensão disso. O que está em jogo no segundo das eleições presidenciais é algo muito maior do que gostar ou simpatizar com algum dos dois candidatos do pleito: Dilma ou Serra. Eleições majoritárias, como é o caso de prefeitos, governadores e, especialmente, presidentes da república não devem ser consideradas unicamente pelo perfil dos candidatos, suas personalidades ou qualidades pessoais. Devemos pensar em algo para além das qualidades ou características pessoais de cada um. O que deve nortear nossa decisão é o projeto de país que o candidato em si representa, juntamente com seu partido e coligação. É esse pano de fundo no qual eu voto. Votei em Humberto Costa para senador por Pernambuco, embora não tenha muita simpatia pessoal por ele. Mas maior que ele é o projeto político no qual ele está engajado, o do Partido dos Trabalhadores e da coligação partidária que o dá sustentação. Na eleição presidencial a história é a mesma. Embora possamos ter algumas diferenças em relação à candidata Dilma Rousseff, mesmo achando que o PT e sua coligação partidária poderiam escolher outro nome (Ciro Gomes, por exemplo), eu não tenho nenhuma dúvida de que ela é a presidente que melhor representará as coisas que acredito quando estiver ocupando a pasta titular do executivo federal. José Serra, como opção contrária, seria o último nome dos candidatos concorrentes nessas eleições em quem eu votaria. Além de eu não nutrir nenhuma simpatia pessoal por ele (fato que considero menor), o projeto político que ele representa é aquilo que eu mais me causa ojeriza em política. Não é do interesse tucano, por exemplo, que o Estado invista em Educação Pública de Qualidade. As universidades federais quase fecharam. Foram oito anos do governo FHC sem aumento salarial para servidores de universidades, sem reajustes inclusive para todo o serviço público federal. No tucanato, o Estado está a serviço da iniciativa privada. Para Serra e seu grupo político, que representam sobremaneira os interesses da alta elite de São Paulo, é só criar as estruturas para que a indústria e o agronegócio se desenvolvam que o resto dos problemas do país hão de se resolver. O projeto que Dilma representa nessas eleições é bastante diferente. Para Dilma, o PT e a coligação que dá base a essa candidatura, o Estado deve intervir fortemente para que haja justiça social. O investimento no serviço público (é bom lembrar a enorme quantidade de concursos que houve nos últimos oito anos) não é gasto sem sentido, mas a forma de garantir que as estruturas do Estado possam de fato prestar bons serviços à população. Investir em universidades e nas instituições públicas como um todo é um caminho para melhorar as condições do povo. Além disso, sou pernambucano e não posso ser injusto que mudou os rumos do meu Estado. Nos oito anos do Governo Lula, o qual Dilma representa e irá dar continuidade e até ampliá-los, com o apoio do governador Eduardo Campos. Estaleiro, Refinaria, Suape (conheço muita gente, inclusive amigos “evangélicos”, que dependem hoje dessas obras), quatro novos campi universitários (Dois da UFRPE e dois da UFPE) e uma nova Universidade (Univasf), além de grande avanço na construção civil com o “Minha Casa, Minha Vida”. Pernambuco é outro Estado depois do Governo Lula. Antes, com FHC, passamos oito anos esquecidos, sem investimento algum de base, sem apoio de projetos estruturadores para desenvolvimento das diversas regiões do Estado. O Governo Lula/Dilma descentralizou boa parte de nossas riquezas, fez com que parcelas significativas que viviam na miséria passassem a ter melhores condições de vida. Corrupção? Houve! Desvios de verbas públicas, também, infelizmente! Mas garanto que não seria diferente em governo de partido algum (certamente seria pior), pois nossa estrutura política atual é conivente com isso, embora a fiscalização tenha melhorado significativamente no Governo Lula (vide as ações da Polícia Federal, do Ministério Público e outros órgãos e instituições públicas). Contudo, não podemos negar que “nunca antes na história desse país” houve tanto espaço para as populações miseráveis, para os pobres, para a classe média baixa, para gente que esteve há séculos de fora da ciranda do desenvolvimento! Por essas e outras, sem falatórios ufanistas ou religiosos-fundamentalistas, não tenho nenhuma dúvida em quem eu votarei para o cargo de presidente do Brasil! Meu voto é Dilma,13!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O dia em que joguei uma banca na professora e fui expulso da escola

Eu era o cão (chupando manga, inclusive)! Até por volta dos 10 anos de idade, fiz coisas que até Deus hesita em acreditar. Meus pais, tadinhos, sofreram muito pra controlar a natureza hiperativa e quase raivosa que eu apresentava naquela idade. Eles recebiam reclamação quase toda semana da escola, de pais de colegas, de desconhecidos, de todo mundo. Uma das piores que aprontei aconteceu no fim da terceira série. Eu tinha uns nove anos. O ano era 1991, mês de novembro. Fui à escola sem farda e acabei caindo na porrada com a diretora e duas professoras do colégio, a famigerada Escola Moderna a Ciderela, que fica no bairro onde moro, em Paulista.
O nome da escola é meio esquisito e um pouco gay, reconheço, mas marcou um período legal da minha vida, dos 7 aos 9 anos de idade. A escola era bem pequenininha, funcionava numa casa. As salas de aula eram os quartos e salas da casa. Pra chegar à minha classe, por exemplo, tinha que passar no meio de outra que ficava entre o terraço e o corredor interno. Foi exatamente nesse meio de campo, meio dessa sala, melhor dizendo, que a cachorrada começou.
Pois bem, resumindo: fui sem farda, uma professora (que não era a minha) viu e disse e falou pra diretora, que falou pra eu ir pra casa. Neguei. Disse que num saía de jeito nenhum. Começaram a forçar a barra. Fiquei nervoso, como de costume. Neste momento eu estava tentando cruzar a classe supracitada pra chegar ao corredor que dava na minha sala. Pegaram no meu braço pra me levar pra direção, aí me arretei. Disse que num arredava o pé. Forçaram a barra de novo pra me levar pra fora. Lascou tudo. Foi porrada, literalmente.
Foi preciso que duas professoras se juntassem a diretora (Dona Verônica) pra me colocar pra fora do colégio. Nesse meio termo, lembro que joguei banca em cima delas, dei mordida, chute, socos, puxei cabelo e falei todos os palavrões do meu vasto vocabulário. A coisa foi muito séria. Nesse dia a escola toda ficou sem recreio e sem água, pois quando me jogaram à força pra fora dos muros da escola inda tive a artimanha de arrancar o contador de água, que ficava na calçada da escola, e tacá-lo por cima do muro. Lembro que nesse instante peguei outra briga com uma mulher que ia passando na rua, que chegou cheia de afetamento mandando eu me aquietar, que não queria bagunça na rua dela.
O fuzuê durou uns dez minutos, tempo suficiente pra toda a escola entrar em ebulição. A galera num acreditava que eu tinha caído na porrada com o cão da dona Verônica e com as professoras babonas. Uma delas se chamava Marta, ainda lembro. Na hora do fight a turma começou a gritar, tipo programa do Ratinho. Os alunos das outras classes saíram todos pra ver o que danado tava acontecendo ali. Eu já era famoso pelas confusões que aprontava, depois disso minha fama saiu dos muros da escola e se espalhou por quase todo o bairro.
Fui muito puto pra casa. Cheguei lá não tinha ninguém, pois meus pais tinham ido trabalhar. Fiquei no quintal, de baixo do pé de jambo (até hoje vivo), pensando um monte de besteira, me sentindo injustiçado, incompreendido, impotente. Minutos depois chega Tia Ercília, minha professora, super nervosa depois de ter escutado a história da briga. Ela não tinha visto o “samba”, pois se tivesse sei que teria ficado do meu lado, era louca por mim. Não sei por que, mas mesmo eu dando um trabalho da preula ela gostava muito de mim. Jamais vou me esquecer desse carinho. Ela falou algumas palavras quando me viu. Não lembro bem o quê, mas ficou marcado e recordo disso como uma relíquia de minhas memórias. Lembro também do olhar dela e do cafuné que ela fez na minha cabeça. Fiquei mais calmo, conformado. Ela voltou pra escola e fiquei aguardando minha mãe voltar do trabalho.
Meus pais endoidaram quando souberam do ocorrido, mas já estavam um pouco acostumados com situações desse tipo – eu era o cão, já disse. Como era fim de ano, aceitaram que eu concluísse o ano letivo, mas com a condição de procurar outra escola para o ano seguinte. Depois dessa, criei outras confusões, grandes, até por volta dos 11 anos - idade em que eu passei a ser quase um santo, um cdf que não dava trabalho pra ninguém. Virei exemplo pra todos os meus amigos (ehehehehehe)! Mas isso só aconteceu por causa da maior burrada que já fiz em minha vida, coisa que um dia, quem sabe, contarei aqui nesse blog!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Quem não tem óculos escuros, usa colírio

Eu tenho e uso os dois, e lentes de contato também. São oito graus de miopia em cada olho, o que me obriga a usar, digamos, corretores bem potentes pra poder contemplar o mundo. Descobri que tinha problema de visão aos dez anos de idade. Naqueles tempos, estava na quarta série do antigo Primário, na Escola Ativa, que até hoje ainda funciona no bairro do Janga, em Paulista. Lembro que não conseguia enxergar nada no quadro negro, tinha que copiar do caderno dos colegas a tarefa das professoras. Passei um ano sem dizer nada a ninguém, desconfiado, meio sem acreditar que tinha problema de vista. Não queria usar óculos, pois achava um saco ter que ficar com aquela coisa na cara o dia todo. Além disso, as meninas do Leblon podiam não olhar mais pra mim, e aí já viu! Enfim. Em meados de 1994, já na quinta série, aluno do Núcleo Educacional Senador José Ermírio de Moraes, pus meus primeiros óculos no rosto, aos 11 de idade. De lá pra cá o grau saiu aumentando, em média meio grau por ano. Começou com 1,75 no esquerdo e 2,25 no direito – nessa altura já via tudo embaçado, desfocado, se nitidez. Meus primeiros óculos eram pretos, meio redondos, meio quadrados. Eles me davam um ar meio intelectual e, ao mesmo tempo, moderninho também. O tempo passou e fui me acostumando. O duro era só quando eu jogava futebol. Quando a bola batia neles era um aperreio só. Mas eu acabei gostando deles, eu e as meninas do Leblon, quer dizer, lá do meu bairro. É engraçado, bastante curioso. Foi exatamente nessa fase, de 11 pra 12 anos, que eu comecei a perceber que o mundo não era feito só dos meninos e das brincadeiras de menino. No ano em que pus meus primeiros óculos no rosto, as meninas passaram a fazer um sentido diferente no meu universo de relações. Meus óculos chegaram junto com a adolescência, concomitantemente. Foi uma fase muito legal, e bem engraçada também. Certo dia, tava eu na minha rua jogando bola com a galera do mal, chega um amigo meu, Tarik (Tareco, como a gente chamava), e dispara: - ei, fulana disse que gosta de tu! ...Cara, essa frase surtiu um efeito metamórfico. Foi como se o mundo se descortinasse e passasse a fazer outro sentido a partir dali. Deixei de ser criança e entrei no mundo dos amores e ilusões naquele momento exato. E os óculos me ajudaram. Pelo menos passei a ser mais percebido e cobiçado a partir deles, e a ver melhor também. Usei-os diariamente até os 18 anos, sem reclamar, momento em que meu oftalmologista me liberou pra usar lentes de contato. Nessa fase já eu estava meio saturado das lentes de cristal ou resina e das armações de plástico ou metal. Queria dar uma mudada no visual e optei pelas lentes de contato gelatinosas, de uso prolongado, incolores. Dá pra passar o dia todo com elas sem se preocupar. Boto ao amanhecer e tiro antes de dormir, ritual que se repete há 10 anos. Adaptei-me perfeitamente a elas e nunca tive problemas mais sérios. Tem gente que acha complicado usar lentes, que se deve ter o maior cuidado do mundo senão o olho cai. Mas comigo é bem diferente. Se dependesse dos cuidados que tenho, talvez estivesse cego – caso usar as lentes que uso oferecesse grandes riscos à visão. Boto a mão suja no olho de vez em quando, já dormi várias vezes com a lente, nem sempre faço a higienização diária da melhor forma, com o produto adequado (favor não fazer isso se usares lentes de contato). Por enquanto, tá tudo legal com meus olhos. De um ano pra cá passei a adotar um colírio umidificante, várias vezes ao dia. É que com o passar do tempo, quem usa lente de contatos com muita frequência produz menos lágrimas. Os olhos ressecam mais rapidamente de tem mais dificuldade pra lubrificar. Daí o colírio que uso é o que se pode chamar de santo remédio. Ele vai comigo pra todo lugar, virou necessidade de primeira importância. Uma gotinha em cada olho e fecho os olhos por um minuto: é o suficiente pra reequilibrar toda minha vida. É mágico. Junto ao colírio e à lente tenho sempre óculos escuros à mão. No último exame oftalmológico que fiz, identificou-se um pouco de astigmatismo, que encandeia tudo quando estou ao sol. Eles aliviam e me deixam mais bonitinho. Óculos, lentes e colírio! Não fossem vocês, o dia não seria tão claro, as cores não seriam as mesmas, a vida não teria o mesmo sabor...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O meu trabalho

Escolhi ser jornalista meio que por acaso. Na oitava série, nos idos 1997, fiz um trabalhinho de português em que eu e meu grupo apresentávamos um telejornal. Eu estudava nessa época no Núcleo Educacional Senador José Ermírio de Moraes, em Maria Farinha, Paulista; a escola era mantida até então pelo grupo Votorantin, que tinha uma fábrica do cimento Poty na região. Escola e fábrica hoje estão fechadas. No trabalho a que me referi, um dos meus colegas era o âncora e chamava as matérias que cada repórter ia apresentar. Não era filmagem não, era tipo um teatrinho. A matéria que apresentei foi sobre meio ambiente, que li numa revista não lembro qual. Lembro apenas que era sobre a BR-262 lá do Mato Grosso do Sul, que ligava as cidades de Campo Grande e Corumbá, considerada a capital do Pantanal. Nessa rodovia tava acontecendo uma verdadeira mortandade de animais silvestres. Como a pista não tinha sido planejada para garantir a segurança dos animais que viviam na área, muitos estavam sendo atropelados e morrendo. A matéria apontava uma série de soluções, realizadas em outros países, é claro, como a construção de estradas ecológicas, com grades, túneis, telas, etc e tal. Na minha apresentação falei tudo direitinho, fazendo pose pras câmeras imaginárias, mudando de enquadramento (como se estivesse no Pantanal). Putz, foi a melhor apresentação que fiz na vida! A galera e a professora (Silvana) super elogiaram. Aí passei os três anos do Ensino Médio pensando em cursar Jornalismo. Acabei fazendo Bacharelado em Física no vestibular. Passei e desisti logo nos primeiros meses de curso – a adolescência é sempre uma fase complicada! No mesmo ano, 2001, tentei jornalismo e passei, começando o curso em maio de 2002 – atrasou por causas das tradicionais greves das federais. Não posso dizer que fui um excelente aluno, mas passei por grandes estágios e tive boas oportunidades de me formar um profissional com certa segurança. No meu primeiro emprego, ainda na faculdade, fui educador popular. Nessa época eu ministrava oficinas de comunicação pelo projeto Agente Jovem, de Olinda, no qual trabalhava com turmas de adolescentes dos 15 aos 18 anos em situação de risco. Isso foi entre julho de 2004 e maio de 2005. Em setembro de 2005 fui estagiar no Jornal do Commercio, no caderno de Esportes. Fiquei lá até setembro de 2006. No fim do ano fui aprovado para estagiar no PE 360 Graus, da Globo Nordeste. O estágio ocorreu entre fevereiro e agosto de 2007. Em setembro me formei jornalista e passei, de setembro a dezembro, a prestar serviços pro JC, na mesma editoria de Esportes. Nos primeiros meses de 2008, fiz apenas serviços esporádicos, freelas em assessoria de imprensa. Em março prestei concurso UFRPE. O resultado saiu em maio e comecei a trabalhar lá no dia 21 de julho do mesmo ano, na Coordenadoria de Comunicação Social. Já faz dois anos que estou na Rural, não tenho do que reclamar. Dá pra trabalhar e estudar sem muitos problemas. E é muito massa trabalhar num local onde a produção de conhecimento ocorre a toda hora. Sempre gostei de ciência e estou tendo uma grande oportunidade de respirar ares tão interessantes. Além disso, ser funcionário público, trabalhar em minha áerea de formação, num lugar tão bacana, não é todo dia que isso acontece. Tem alguns problemas, é claro, como em toda empresa pública ou privada, mas posso dizer com segurança que muita gente gostaria de estar no meu lugar...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Shyness is nice, shyness can stop you

A timidez é uma parada. Eu, que já fui tímido e ainda sou, posso dizer que a timidez muitas vezes é um grande empecilho. Em algumas circunstâncias, ser tímido pode até ser uma vantagem, mas essas são muito poucas. Pois bem, consegui vencer a terrível timidez que me afligiu toda a adolescência depois de ter tomado uma decisão: "tenho que sair de dentro de mim mesmo, para viver a vida!" Faz mais ou menos 10 anos que deixei de ser tímido, introspectivo demais. Minha vida era legal, mas era um inferno também. Eu era meio travado até os 17 pra 18. A coisa mais difícil pra mim era falar sobre meus sentimentos. Não conseguia dizer nada, pra ninguém, sobre ninguém. Era terrível gostar de alguma garota. Geralmente era algo que só eu ficava sabendo. Nem aos meus amigos eu tinha coragem de me abrir, menos ainda à menina do meu interesse. Falar em público era quase uma tortura, terrível. Na verdade, qualquer coisa em público me dava pânico, até responder pergunta de professor em sala de aula. Quando era posto em evidência, tremia todo, o raciocínio travava, a voz não saía. Era horrível. Dançar, então, nem se fala. Quanto me atrevia, a sensação era a de que o mundo inteiro parava pra olhar pra mim, pra analisar os mínimos movimentos do meu corpo. Teve um dia, acho que tinha uns 13 pra 14 anos, inventei de convidar uma moçoila à dança. Era uma festinha de aniversário de um colega meu chamado Rafael. Jaqueline era o nome dela. Travei no meio do salão. Ela tentando dançar e eu sem conseguir dar um passo. Coisa que hoje conto rindo, mas que foi meio esquisita na época. Venci a timidez na base da paulada. Entrei em teatro, virei educador popular, coordenei até grupo de jovem em igreja. Toda vez que surgia uma oportunidade de falar, de me expor, no lugar de deixar o medo tomar conta colocava minha cara à tapa. Paguei um monte de mico com essa técnica, mas deu certo, ao menos em parte. Quem me conhece há mais tempo, especialmente a galera dos colégios que estudei na adolescência e até na faculdade (a infância foi bem diferente; depois conto), sabe o quanto eu era tímido. Tanto que tem gente que se encontra comigo e tem até um susto. Não que tenha mudado muito na essência, mas na forma. Continuo o mesmo (com alguns aprimoramentos a mais; e defeitos também, muitos), mas tou mais disposto à aventura, às coisas não muito seguras, que não tem manual ensinando o passo a passo. Apesar disso, gosto muito da timidez, pois ela impede que a gente se entregue logo de cara. Quem quiser compreender um tímido (a) tem que ir devagarzinho, com jeito, astúcia. A timidez tem seu charme, e eu sabia disso na época em que ela me acompanhava mais de pertinho. Por isso fiz muitos amigos e conquistei alguns (as) admiradores (as), amores também. Sinto falta só de certo ar zen que eu tinha. Tudo era mais tranqüilo, mais light, centrado, no eixo. Sair da casca do ovo também me fez ser meio estabanado, fora de foco às vezes. Mas é o preço que se paga, afinal, mudanças geram mudanças. Gosto do que sou agora e do que fui anos atrás. O bom é que a vida sempre possibilita escolhas. A gente é quem decide pra onde vai, como e quando...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Se meu Palio falasse...


Mesmo sem falar, meu Palio (KFK-7227/Fiat) foi um grande irmão durante os quase dois anos de convivência. Chamava ele carinhosamente de Pretume, nome dado pela antiga dona e que mantive. Com ele, circulei distância suficiente pra dar quase uma volta e meia ao mundo pela Linha do Equador (mais de 50 mil km). Pretume nunca me deixou na mão. Estava sempre disposto a me atender, em qualquer circunstância. Ele me levava pra todo canto. Nossas idas e vindas sempre tinham trilha sonora, sempre uma musiquinha legal. Se Pretume falasse, além de trocar idéias comigo e de me dar conselhos – tenho certeza que os daria –, ele também teria boas histórias pra contar. Foram dois anos, como diria Roberto, de grandes emoções. Chorei, sorri, e grandes emoções eu com meu Palio vivi. Puxa, foram tantas coisas que só de lembrar vem um quê de nostalgia. Teve a viagem rumo ao desconhecido que acabou em Sobral-CE; o dia em que parei e chorei; as histórias do banco de trás; as saídas com a galera; os passeios sem propósito nem destino; as grandes conversas; os perfumes que conheci; as caridades que fiz; enfim...
Bem, o Pretume foi meu primeiro carro. E, como se sabe, o primeiro carro de um homem é eterno, fica na gavetinha das recordações especiais, onde estão guardadas também as memórias da infância, os primeiros amores, os grandes acontecimentos da vida. Pretume se foi, mas conquistou lugarzinho cativo no meu coração. Faz mais ou menos quatro semanas que o troquei. As contingências me levaram a decidir pela troca. Escolhi um Celtinha, verdinho, batizado preliminarmente de “Verdume”. Ainda estamos nos conhecendo, mas já passou da fase da paquera. Chegamos ao início de namoro que, acredito, irá durar alguns anos. Espero que a relação seja tão cúmplice quanto a que tive com meu Palio...