quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Quem não tem óculos escuros, usa colírio
Eu tenho e uso os dois, e lentes de contato também. São oito graus de miopia em cada olho, o que me obriga a usar, digamos, corretores bem potentes pra poder contemplar o mundo. Descobri que tinha problema de visão aos dez anos de idade. Naqueles tempos, estava na quarta série do antigo Primário, na Escola Ativa, que até hoje ainda funciona no bairro do Janga, em Paulista. Lembro que não conseguia enxergar nada no quadro negro, tinha que copiar do caderno dos colegas a tarefa das professoras. Passei um ano sem dizer nada a ninguém, desconfiado, meio sem acreditar que tinha problema de vista. Não queria usar óculos, pois achava um saco ter que ficar com aquela coisa na cara o dia todo. Além disso, as meninas do Leblon podiam não olhar mais pra mim, e aí já viu! Enfim. Em meados de 1994, já na quinta série, aluno do Núcleo Educacional Senador José Ermírio de Moraes, pus meus primeiros óculos no rosto, aos 11 de idade. De lá pra cá o grau saiu aumentando, em média meio grau por ano. Começou com 1,75 no esquerdo e 2,25 no direito – nessa altura já via tudo embaçado, desfocado, se nitidez. Meus primeiros óculos eram pretos, meio redondos, meio quadrados. Eles me davam um ar meio intelectual e, ao mesmo tempo, moderninho também. O tempo passou e fui me acostumando. O duro era só quando eu jogava futebol. Quando a bola batia neles era um aperreio só. Mas eu acabei gostando deles, eu e as meninas do Leblon, quer dizer, lá do meu bairro. É engraçado, bastante curioso. Foi exatamente nessa fase, de 11 pra 12 anos, que eu comecei a perceber que o mundo não era feito só dos meninos e das brincadeiras de menino. No ano em que pus meus primeiros óculos no rosto, as meninas passaram a fazer um sentido diferente no meu universo de relações. Meus óculos chegaram junto com a adolescência, concomitantemente. Foi uma fase muito legal, e bem engraçada também. Certo dia, tava eu na minha rua jogando bola com a galera do mal, chega um amigo meu, Tarik (Tareco, como a gente chamava), e dispara: - ei, fulana disse que gosta de tu! ...Cara, essa frase surtiu um efeito metamórfico. Foi como se o mundo se descortinasse e passasse a fazer outro sentido a partir dali. Deixei de ser criança e entrei no mundo dos amores e ilusões naquele momento exato. E os óculos me ajudaram. Pelo menos passei a ser mais percebido e cobiçado a partir deles, e a ver melhor também. Usei-os diariamente até os 18 anos, sem reclamar, momento em que meu oftalmologista me liberou pra usar lentes de contato. Nessa fase já eu estava meio saturado das lentes de cristal ou resina e das armações de plástico ou metal. Queria dar uma mudada no visual e optei pelas lentes de contato gelatinosas, de uso prolongado, incolores. Dá pra passar o dia todo com elas sem se preocupar. Boto ao amanhecer e tiro antes de dormir, ritual que se repete há 10 anos. Adaptei-me perfeitamente a elas e nunca tive problemas mais sérios. Tem gente que acha complicado usar lentes, que se deve ter o maior cuidado do mundo senão o olho cai. Mas comigo é bem diferente. Se dependesse dos cuidados que tenho, talvez estivesse cego – caso usar as lentes que uso oferecesse grandes riscos à visão. Boto a mão suja no olho de vez em quando, já dormi várias vezes com a lente, nem sempre faço a higienização diária da melhor forma, com o produto adequado (favor não fazer isso se usares lentes de contato). Por enquanto, tá tudo legal com meus olhos. De um ano pra cá passei a adotar um colírio umidificante, várias vezes ao dia. É que com o passar do tempo, quem usa lente de contatos com muita frequência produz menos lágrimas. Os olhos ressecam mais rapidamente de tem mais dificuldade pra lubrificar. Daí o colírio que uso é o que se pode chamar de santo remédio. Ele vai comigo pra todo lugar, virou necessidade de primeira importância. Uma gotinha em cada olho e fecho os olhos por um minuto: é o suficiente pra reequilibrar toda minha vida. É mágico. Junto ao colírio e à lente tenho sempre óculos escuros à mão. No último exame oftalmológico que fiz, identificou-se um pouco de astigmatismo, que encandeia tudo quando estou ao sol. Eles aliviam e me deixam mais bonitinho. Óculos, lentes e colírio! Não fossem vocês, o dia não seria tão claro, as cores não seriam as mesmas, a vida não teria o mesmo sabor...
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