Eu era o cão (chupando manga, inclusive)! Até por volta dos 10 anos de idade, fiz coisas que até Deus hesita em acreditar. Meus pais, tadinhos, sofreram muito pra controlar a natureza hiperativa e quase raivosa que eu apresentava naquela idade. Eles recebiam reclamação quase toda semana da escola, de pais de colegas, de desconhecidos, de todo mundo. Uma das piores que aprontei aconteceu no fim da terceira série. Eu tinha uns nove anos. O ano era 1991, mês de novembro. Fui à escola sem farda e acabei caindo na porrada com a diretora e duas professoras do colégio, a famigerada Escola Moderna a Ciderela, que fica no bairro onde moro, em Paulista.
O nome da escola é meio esquisito e um pouco gay, reconheço, mas marcou um período legal da minha vida, dos 7 aos 9 anos de idade. A escola era bem pequenininha, funcionava numa casa. As salas de aula eram os quartos e salas da casa. Pra chegar à minha classe, por exemplo, tinha que passar no meio de outra que ficava entre o terraço e o corredor interno. Foi exatamente nesse meio de campo, meio dessa sala, melhor dizendo, que a cachorrada começou.
Pois bem, resumindo: fui sem farda, uma professora (que não era a minha) viu e disse e falou pra diretora, que falou pra eu ir pra casa. Neguei. Disse que num saía de jeito nenhum. Começaram a forçar a barra. Fiquei nervoso, como de costume. Neste momento eu estava tentando cruzar a classe supracitada pra chegar ao corredor que dava na minha sala. Pegaram no meu braço pra me levar pra direção, aí me arretei. Disse que num arredava o pé. Forçaram a barra de novo pra me levar pra fora. Lascou tudo. Foi porrada, literalmente.
Foi preciso que duas professoras se juntassem a diretora (Dona Verônica) pra me colocar pra fora do colégio. Nesse meio termo, lembro que joguei banca em cima delas, dei mordida, chute, socos, puxei cabelo e falei todos os palavrões do meu vasto vocabulário. A coisa foi muito séria. Nesse dia a escola toda ficou sem recreio e sem água, pois quando me jogaram à força pra fora dos muros da escola inda tive a artimanha de arrancar o contador de água, que ficava na calçada da escola, e tacá-lo por cima do muro. Lembro que nesse instante peguei outra briga com uma mulher que ia passando na rua, que chegou cheia de afetamento mandando eu me aquietar, que não queria bagunça na rua dela.
O fuzuê durou uns dez minutos, tempo suficiente pra toda a escola entrar em ebulição. A galera num acreditava que eu tinha caído na porrada com o cão da dona Verônica e com as professoras babonas. Uma delas se chamava Marta, ainda lembro. Na hora do fight a turma começou a gritar, tipo programa do Ratinho. Os alunos das outras classes saíram todos pra ver o que danado tava acontecendo ali. Eu já era famoso pelas confusões que aprontava, depois disso minha fama saiu dos muros da escola e se espalhou por quase todo o bairro.
Fui muito puto pra casa. Cheguei lá não tinha ninguém, pois meus pais tinham ido trabalhar. Fiquei no quintal, de baixo do pé de jambo (até hoje vivo), pensando um monte de besteira, me sentindo injustiçado, incompreendido, impotente. Minutos depois chega Tia Ercília, minha professora, super nervosa depois de ter escutado a história da briga. Ela não tinha visto o “samba”, pois se tivesse sei que teria ficado do meu lado, era louca por mim. Não sei por que, mas mesmo eu dando um trabalho da preula ela gostava muito de mim. Jamais vou me esquecer desse carinho. Ela falou algumas palavras quando me viu. Não lembro bem o quê, mas ficou marcado e recordo disso como uma relíquia de minhas memórias. Lembro também do olhar dela e do cafuné que ela fez na minha cabeça. Fiquei mais calmo, conformado. Ela voltou pra escola e fiquei aguardando minha mãe voltar do trabalho.
Meus pais endoidaram quando souberam do ocorrido, mas já estavam um pouco acostumados com situações desse tipo – eu era o cão, já disse. Como era fim de ano, aceitaram que eu concluísse o ano letivo, mas com a condição de procurar outra escola para o ano seguinte. Depois dessa, criei outras confusões, grandes, até por volta dos 11 anos - idade em que eu passei a ser quase um santo, um cdf que não dava trabalho pra ninguém. Virei exemplo pra todos os meus amigos (ehehehehehe)! Mas isso só aconteceu por causa da maior burrada que já fiz em minha vida, coisa que um dia, quem sabe, contarei aqui nesse blog!